Saltei.
Onde sou?
Doeu-me a alma toda
Dói-me
Que dói?
Dói-me desde agora o voo vão
Partiu-se
Perdeu-se em mim o eu
Que é?
Que sou?
Todos os tempos: descer-me inteiro
Apartado em mim estou, eu
Insciente descida, eu
Queda em voo alto, eu
Em tão chama descida, conheci-me?
E as flores do meu sentir põem-me ramos no vazio
Deixei de fazer sensos, desde então
E a música do meu cair – sim, a música! – hoje é lenta e dolorosa
Tão dolorido salto metralha-me o existir
Eterno outro em mim, sou
(Dói-me o existir)
Desarvorei, fundiu-se o ser
O voo, porém, é belo
Sede da real ave
Estranha ave, o condor
Predatório e nu
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Cesar é poeta, crítico literário e aprendiz de ator de si mesmo. Formado em Letras, faz doutorado em Teoria da Literatura (PUCRS). Em sua tese analisa o que chama dandismo heteronímico na obra de Fernando Pessoa.