Flavio Colker: na fotografia é o assunto e o acaso o que interessa

A primeira vez que ouvi falar de Flavio Colker foi na década de 80, consumidor voraz que eu era de toda e qualquer informação disponível nas capas de discos e créditos de revistas. Depois, já nos tempos da faculdade, um grande amigo, a quem sempre deverei grande parcela da minha capacidade de discernimento e apreço pela arte, confirmou: “Sim, Flavio Colker é um grande fotógrafo. Um dos melhores”.

Ali por 2010, convidei Flavio p/ participar da Minotauro. Ele escreveu um texto belíssimo. Nos conhecemos e a conversa sempre foi muito boa.

Além de um grande fotógrafo, é um ser inteligentíssimo. “Comecei a fotografar aos 12 anos. Eu não jogava futebol. A partir daí, o sujeito é anormal. Eu gostava de máquinas, era obcecado com relógios. Mudei a tara para máquinas fotográficas. Continuo tarado por máquinas, bicicletas, carros. Agora, porque eu continuei fotografando, sinceramente não sei “, ele me disse, um dia.

Em uma conversa que tivemos, perguntei se fotografia era memória.

Ele disse: “É uma espécie de dramaturgia. Não, só memória. A matéria da fotografia é uma cena. Ou a cena é dada pelo acaso ou você a faz acontecer, como na foto de moda. Mas o acaso é a maior potência na fotografia. O acaso é a maior força criativa dentro do tempo. Fotografar bem é observar o acaso”.

As fotos que Flavio tirou do rock nacional nos anos 80, início dos 90, são históricas. Caetano, Cazuza, Legião Urbana, Cassia Eller, dentre tantos outros, foram maravilhosamente retratados por Flavio. Eram as fotografias que conhecia e que admirava.

Alguns anos depois da Minotauro o convidei para montarmos um blog sobre fotografia, o 1/125 avos (http://um125.blogspot.com.br/). Naquela época ele iniciou uma série maravilhosa, chamada Sempre aos domingos, fotografando mulheres incríveis como Ana Fay, Gabriela Mourato e Maria Pia. Um privilegio, para mim, ter divido um projeto com ele.

Flavio hoje vive e trabalha entre o Rio de Janeiro e Cidade do México. E é o Rei da Glória também.

A razão da fotografia, segundo Flavio Colker:

“A fotografia é do Afetivo. O Barthes fala isso e os fotógrafos que mais me marcaram tinham isso: a motivação era a atração. A luz do sol é potencia maior do que o estúdio. O acaso maior do que o projeto. Eu dou aula e os fotógrafos com formação profissional perderam o contato com o mais interessante do ato de fotografar. Ficaram estetas, quando na fotografia é o assunto que interessa”.

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Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do About Light

Veja galeria com fotos de Flavio Colker aqui

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