Pág. 28-29: “se ao menos eu pudesse devorá-lo, que fosse parte de mim, menos confusão em relação
ao fora, tropeços, não negócios, mistério do mundo,
fluxo histérico de entranhas desvanecidas, sem vida,
porque não sabem (…)”
Pág. 30: “a morte virá e será um meme, ficaremos todos
desamparados, o barco da vida, esperar, pra sempre
esperar, é bom e terrível, sempre terrível, tudo terrível,
esfaquear o fluxo histérico com a faca da soberba e da
luxúria, pecar sem acreditar em pecado, acordar sem
acreditar na vida, injúrias lamentáveis
trancada neste quarto há dias, nem tantos assim, se quiser
dramaticidade há diversos, pensar o amor e a merda,
injúrias lamentáveis, aqui pra injuriar, morrer, talvez
brincadeira, fica ao seu dispor, o número, os dias, as
horas, as madrugadas, a insônia, a calúnia, crie você,
o seu próprio vaso amarelando”
Pág. 35: uma preta pobre gilete também pensa, até então como
vocês me viam daí, branca-classe-média-heterozinha,
a cabeça é o fracasso, salvem-se com consequências
Pág. 36: já quis ser bailarina, musicista, psicanalista, astronauta,
arquiteta, historiadora, virei apenas uma mulher
deitada, virei uma mulher deitada que vê as bailarinas,
as musicistas, as psicanalistas, as astronautas, se existir
alguma, as arquitetas, as historiadoras, virei apenas
uma mulher preta
Pág. 41: ela, ele, poderia ser ela, a amor, amora, oposto do mito,
o inominável, seja lá o que for, distante, dois mil e
dezoito, caos do caos do ano anterior, a ferida exposta,
a podridão, a camisa verde e amarela
Trechos de “repito coisas que não lembro “, de Débora Gil Pantaleão, fotos de Bruna Dias. Editora Escaleras, 2019.
Débora Gil Pantaleão nasceu em 1989, em João Pessoa,
Paraíba. É formada em Letras, mestre e doutoranda com foco
em estudos literários pela Universidade Federal da Paraíba
(UFPB).
Bruna Dias nasceu em Pombal, sertão da Paraíba, em 1989. Vive em João Pessoa desde 2010.
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