apesar da luz algo
ainda não aparece algo
ainda parece se mover pela sombra
pela sobra do contorno de um corpo
e que agora
é somente dobra de lençol esfriado
dobras que poderiam ser contadas
como as ranhuras de uma árvore derrubada
para denotar o tempo ou a distância
para detonar a ausência
mas o movimento inerte
o que será que faz convulsionar
a memória?
o movimento inerte é apenas uma lembrança
se debatendo um peixe
que parece uma flor murcha que já
quase não existe
brocha sobre um piso de tábua corrida
os olhos ainda sentem
a quentura e o cheiro invisível da pele deslizante
Luiza Mussnich, poema sobre foto de Vicente de Mello

/
Luiza Mussnich é poeta, escritora e jornalista. Publicou os livros de poesia “Microscópio”, “Lágrimas não caem no espaço” e “Para quando faltarem palavras”, todos pela Editora 7Letras.