Há tempos os físicos – os verdadeiros inventores da fotografia, junto com os químicos – alertam: o tempo não existe.
Mas se ele não existe, o que é isso que a fotografia se vangloria de capturar?
O tempo: esse tema recorrente da fotografia, tanto quanto a memória, o afeto e as questões de identidade e representação.
Uma das grandes frases, creditada à revelia à Henri Cartier-Bresson, diz que a fotografia é a captura do instante decisivo.
Mas e se, por acaso, todos os instantes são decisivos?
É preciso resignificar o tempo.
Quando Camila me encaminhou as fotos publicadas ontem no About Light, escreveu no assunto do email: “About Time! ” Muito provavelmente porque há tempos peço um ensaio seu para o site.
Pelo campo de estudo dela – os gregos –, logo me ocorreu buscar uma referência, um poema, uma citação descolada para escrever o texto que agora acompanha suas fotos.
E lembrei que os gregos fundaram duas personificações para o tempo: Kronos e Kairós.
O primeiro, a sucessão cronológica, o tempo linear, nascimento, vida e morte, as estações do ano, os dias e as noites, o tempo que pode ser cronometrado, enjaulado e fragmentado em partes mínimas, encalacrado em uma tarefa moral, quase judaica e cristã: lá no fundo está a morte
o segundo, aquele que não cabe nos números, a liberdade de ser, ou de não ser, do homem, a indiferença ao anti-relógio, o acaso, o improviso, o trânsito, o tempo oportuno, a imprevisibilidade, o tempo da memória, do afeto e da narrativa que flui a despeito do próprio…
tempo?
Susan Sontag dizia que a dimensão do tempo é fundamental para a complexidade narrativa da prosa de ficção e para o romance – pense Proust, pense Dostoiévski.
Cortazariano que sou, comparo: Kronos está para o romance, assim como Kairós está para a poesia e para o conto.
É assim que as fotografias de Camila me nocauteiam: feito um gato preto, lanternas japonesas, afetos refletidos e uma amalgama de universos alinhados em um big bang.
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Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light
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