sou o rosto desfigurado
que chama
vem, e rosna
não há em que acreditar
a não ser no desterro
– sou sozinha
rosno
enquanto espero um trem que
não vem não parte
–
tenho um púbis de pedra
liso
como esse chão que meus pés
agarram
essa estação em que
permaneço
em que me estranho
éramos um jogo de imitação
do qual falam os véus
éramos um perder dos trens
deixá-los partir
dentes de cobre
nada resta além da falácia
da longa espera
por um vento
que me arranque as mãos
do rosto
mas os trens sequer movem
os trilhos sequer curvam
o exílio é um véu
cobre sem vento
bafo de
mulher
que rosna
Boris Kossoy, A Noiva (1). Franco da Rocha, São Paulo, 1970
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Nina Zur, 25, é carioca, poeta, graduada em direito (UERJ) e pesquisadora do ISER. Autora do livro A chance do corte, recém publicado pela editora Cozinha Experimental, também tem poemas publicados pela editora 7letras, pela revista Garupa e pelo projeto Mulheres que escrevem.