Um dos primeiros artigos que escrevi foi sobre Wim Wenders – o primeiro do então chamado Novo Cinema Alemão.
O Novo Cinema Alemão: aqueles que herdaram a imensa culpa e o fardo da cumplicidade da indústria cinematográfica alemã com a barbárie de Hitler: Wim Wenders, Herzog, Fassbinder, dentre eles.
Não tenho a menor dúvida de dizer Wim Wenders é meu cineasta favorito. Gosto da forma como ele coleciona afetos em seus filmes. Ele foi uma porta de entrada maravilhosa para Nick Cave, Lou Reed, Sam Shepard, Peter Handke, Manoel de Oliveira, Ozu e para a fotografia. Ele mesmo, um grande fotógrafo.
Nunca me saiu da cabeça algo que li: cada filme me fez renunciar alguma coisa e adquirir algo novo em seguida.
Em “Alice nas cidades”, Philip Winter precisa escrever uma reportagem, mas só consegue fixar algo com sua polaroid. Fotografar tem a ver com provar.
Em “Paris, Texas”, Hunter, o filho dos personagens de Harry Dean Stanton e Nastassja Kinski, só realiza a família depois de ver fotos onde aparece junto aos pais.
Em “Até o fim do mundo”, um homem percorre o mundo captando, com um aparato, imagens que irá transmitir depois para a mãe cega.
Olhar é uma experiência única. Daí a beleza do título de um dos livros que perdi em algum momento e que reencontrei: “Os olhos não se compram – Wim Wenders e seus filmes “, de Peter Buchka, lançado pela Companhia das Letras, em 1987.
Para Wenders, toda fotografia é sempre uma imagem dupla, uma ação, um disparo em duas direções: para frente e para trás.
“Para frente, a câmera de fato tira uma foto, para trás, registra uma vaga sombra, uma espécie de raio x da mente do fotógrafo, que é jogado para si próprio e para o seu desejo. E com isso pode recordar melhor, compreender melhor, ver melhor, ouvir melhor e amar mais profundamente”.
Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light