O rock não morreu, mas enquanto rótulo sobrevive como uma carcaça velha respirando por aparelhos.
Se antes o rock era uma expressão, um meio e um refúgio de liberdade de pensamento e de atitude, onde todos aqueles que se sentem de alguma forma oprimidos pelas estruturas encontravam um espaço, hoje o rock – que se dizia genuíno e desbravador –, é o reino do conservadorismo.
Muitos músicos e compositores que lançaram discos revolucionários, hoje não fazem mais do que repetir fórmulas e discursos retrógrados. O rock, como uma cultura ou modo de ser/agir, é hoje a maior desculpa para abrigar individualistas que, pelo mundo e por si mesmos, não fazem nada de relevante.
Este rock deixou de ser resistência e passou a ser, no melhor dos casos, resignação.
Óbvio que, mesmo com toda crítica e pessimismo, tal visão não pode ser generalizada e acredito que o que descrevi é, na verdade, válido apenas para os que não acompanham o mundo enquanto ele não para de girar.
Mas, então, o que existe ou existiu de interessante nesse som, nesses músicos, nessa imagem, nesse estilo de vida?
O rock me ensinou que ser independente é maior do que ser individualista. Tacar o foda-se não é não se preocupar com o próximo, é tentar quebrar grilhões de poder, hierarquia e opressão. Poucos acordes e um som barulhento não é pior do que uma bonita e complexa harmonia: é outra forma de ouvir. E o deslocamento do ouvido é uma forma de se fazer política: a partir daí meu mundo se expandiu para nunca mais voltar a ser do mesmo tamanho.
Não tenho rock nas veias, tenho sede de conhecimento e de mudança. E isso apareceu num momento crucial de formação de personalidade: hoje me interesso pelo que é diferente, não pelo padrão. E tudo foi se complexificando de maneira tão rápida e intensa que, hoje em dia, raramente sei dizer se uma banda é ou não de rock.
Pérola Mathias(@poroaberto) é doutoranda em Sociologia pela UFRJ e escreve no blog poroaberto.tumblr.com.
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