Apaixonado pela obra de Proust*, Brassai leu e releu as mais de três mil páginas de “Em busca do tempo perdido” para buscar correspondências com a fotografia.
O resultado foi “Marcel Proust sous l’emprise de la photographie”, livro resgatado, em 1997, pela Gallimard, e publicado, no Brasil, pela Jorge Zahar, em 2005.
Para Brassai, Proust – cujo cerne da criação estaria na arte fotográfica – era um fotógrafo mental, ora repórter, ora retratista, ora paisagista, ora fotógrafo noturno (“a memória é uma espécie de noite”).
“Às vezes Proust nada fica a dever aos paparazzi”, escreve Brassai, observando que para além da multiplicidade de pontos de vista das narrativas e da decomposição do tempo-movimento, o olho proustiano parece às vezes se transformar em uma objetiva com seu campo de visão, sua distancias focais, sua profundidade de campo.
O grande truque, escreve Brassai, tanto no laboratório quanto no domínio da escrita é solidificar, imagens e palavras. Para o escritor o hipossulfito que fixa as imagens é, segundo Proust, a perfeição, a justeza da expressão, o estilo.
E para isso, o melhor lugar talvez seja mesmo uma câmara escura: “Sou um homem que se retirou do mundo para melhor revive-lo, arrebatado pela luz, em um quarto escuro”, dizia Proust.
* Reza a lenda que, húngaro, ao mudar para Paris, em 1924, Brassai teria aprendido francês lendo a obra de Proust.