Arrebatamento. É o que me ocorre ao ver as fotos de Lee Miller tiradas por Man Ray. E corro para buscar o exemplar de Fragmentos de um discurso amoroso, para lembrar o trecho:
“A língua (o vocabulário) estabeleceu há muito a equivalência entre o amor e a guerra: nos dois casos, trata-se de conquistar, de seduzir, de capturar. (…) O amor à primeira vista é uma hipnose: sou fascinado por uma imagem: inicialmente sacudido, eletrizado, virado, revirado, torpedeado”.
Barthes sabia das coisas.
Voltando a Lee Miller e Man Ray, os dois viveram juntos durante três anos, de 1929 a 1932.
Quando se conheceram, ela tinha 22 anos. Como modelo, já havia sido fotografada por nomes como Edward Steichen, para a Vogue. Ele, 17 anos mais velho, já era um mestre da fotografia e do experimentalismo. Alguém para quem um sujeito como Pablo Picasso – a despeito de toda sua arrogância –, guardava respeito e baixava a cabeça ao cruzar uma rua solitária.
Mas a questão aqui é a paixão, o arrebatamento que Man Ray sentia por Lee Miller. E as fotos em que ele quer guardar cada detalhe de sua anatomia.
“It is seven o’ clock in the morning, before the hunger of imagination is satisfied. The sun has not yet decided to rise or set – but your mouth comes… It becomes two bodies itself, separated by a horizon, slim, undulating. Like the earth and sky, like you and me, and thus like all microscopic objects, invisible to the eye… Lips of the sun, you draw me endlessly nearer, and in this instant before awakening, when I cast loose from my body – I am weightless – I meet you in the even light and empty space, and, my only reality, kiss you with all that is left of me: my own lips”.
Escreveu Man Ray, p/ Lee Miller.
Veja galeria das fotos de Lee Miller tiradas por Man Ray aqui.
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Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.