Não era nova a ideia, mas no ano passado a fotógrafa Renata Mello decidiu colocar em prática o plano de pegar a estrada, em uma longa viagem.
“Sempre viajei muito. Sempre fui uma pessoa do mundo. Tranquei a faculdade no início e perambulei pela Europa por dois anos”, conta.
Daí veio: carreira, casamento, filha, divórcio. “Quando me dei conta, a Marina já estava pré-adolescente, crescendo bem, mas o trabalho me fez perder muitos momentos importantes. A gente se afunda na rotina e a vida passa”.
“Com os 50 batendo na minha porta, resolvi investir e fazer uma viagem longa com a Marina, deu vontade de mudar, desacelerar, conhecer pessoas que fizeram a mesma escolha, de descobrir outras opções de vida”, explica. “Mas principalmente buscar uma aproximação maior com a minha filha”, conta.
“Eu me imaginava com um parceiro fazendo todas essas aventuras, mas a realidade era ainda melhor: eu levaria a minha filha para conhecer o mundo, ao vivo e a cores”.
O ponto de partida da road trip é San Diego, sul da Califórnia. De lá, Renata e Marina sobem a costa oeste americana até o Canadá, seguindo para o Alaska. No caminho de volta, cruzam o meio oeste dos EUA, passando pelos estados de Montana, Utah e Colorado. Seguem depois para a costa leste, parando em Chicago e Toronto. Depois, descem até a Flórida, passando por Nova Orleans, cruzando Texas, Arizona e Nevada.
Renata conta que o que a fez tomar coragem de verdade foi puro acaso. “Um dia uma amiga me jogou o tarô e resolvi fazer a pergunta-chave: eu sempre tive um sonho mas tenho medo de realiza-lo. O que eu faço? Quando a carta principal (o louco) saiu a tradução era óbvia: se joga!”, lembra. “Vi aquilo como um sinal para acreditar na viagem”.
Fotografa há quase trinta anos, Renata nos últimos anos trabalhou para o mundo corporativo. “A profissão me proporcionou uma vida boa, com muitas viagens e bons amigos, mas resolvi tirar um sabático, me dar de presente um ano inteiro “, ela conta, já em San Diego.
“Chegamos aqui em fevereiro. Acabamos de comprar o carro, uma campertruck, basicamente uma pick-up com uma casinha atrás. A Marina escolheu o nome – Thunder – e eu gostei. Estamos esperando o tempo esquentar um pouco para cair na estrada de vez. Até lá, faremos viagens aqui perto para ir testando o carro e nos adaptando à vida de overlander. Vamos para o Joshua Tree Park, que eu sempre quis conhecer, e San Francisco”.
Renata diz que, tomada a decisão, teve muito o que pensar, pesquisar e fazer.
“O plano foi se formatando de acordo com o que eu podia fazer com a Marina”, explica. “Depois de decidir o roteiro da viagem e juntar o máximo de dinheiro possível, corri atrás de um homeschooling para Marina, com um preço acessível e dentro do contexto da nossa viagem”, explica.
“Também garanti que estivéssemos com a saúde perfeita antes de sair do Brasil. Fomos na pediatra, dermatologista, hematologista (tenho deficiência recorrente em ferro), ortopedista e oculista (óculos sobressalentes para cada uma). O dentista foi outra prioridade. Deixei tudo ordem. Tudo visando um ano tranquilo pela frente”, conta. “Levei o assunto tão a sério que até curso de primeiros socorros fizemos, visando a possibilidade de algumas situações de emergência pelo caminho”.
Mas ainda que o planejamento coloque a perspectiva em ordem é preciso saber lidar com o inesperado. “Planejamento é importante para evitar ao máximo as roubadas pelo caminho, mas elas sempre vão acontecer. O principal para mim é garantir a nossa segurança, já que estaremos sozinhas na viagem”.
Pergunto pra Marina, 13 anos, qual a primeira coisa que passou pela cabeça dela quando a mãe disse “bora pro mundo”.
“Se eu fizer uma viagem dessas acho que termino hippie!”, ela responde, sem esquecer de mencionar a confiança que tem na mãe. “Ela já viajou bastante e sabe como fazer essas coisas”, diz.
Pergunto se elas chegaram a conversar sobre a divisão de tarefas e responsabilidades durante a viagem.
“Sim, falamos nisso frequentemente. Por enquanto, minha mãe que alimenta as redes sociais, mas na hora de viajar eu vou me ocupar mais com isso”, explica Marina. “Ela dirige, eu ajudo na navegação. Ela cozinha, eu lavo. Ela paga, eu gasto! “, brinca, com o humor mais do que natural da idade.
“A Marina é uma ótima filha, mesmo nesses períodos complexos de pré-adolescência. De cara é meio tímida, mas uma vez que se sinta à vontade, vira logo amiga. É uma menina divertida, cheia de estilo e personalidade. É muitas numa só”, diz Renata.
A viagem de Renata e Marina pode ser acompanhada nas redes sociais (@PoraicomMarina) e no website poraicommarina.com.
Veja galeria de fotos da road trip de Renata e Marina aqui.
/
Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do About Light.