About Love: Ismar Tirelli Neto e o Domingo com Gustavo

eles nunca passaram pela eternidade de um cerco
– Z. Herbert em tradução de José Miguel Silva
do poema “Crônica de uma cidade sitiada”

Encontramos afinal um ângulo morto
E nos entocamos
Cumulados destas tardes que pestanejam para dentro
Arrepanhamos para a natureza
Boleros e panfletos
Incendiários
Dulces recuerdos da subversão de fusos
Abaixo-assinados
Isqueiros cor-de-rosa
Vozes que encapelam
Desde a grande insensata metrópole
Pulverizando sobre a cama todos os nossos pertences
O estojo de couro falso se abre como se abre
A cena
Para as depauperações
Foram esposas de Nero Esporo e Doríforo
(Corrigenda: marido este último,
Ao que parece)
Prevê-se um grande retorno da hilarotragédia
Na disposição fortuita destes
Pequenos vidros de esmalte, acetona, chumaços de algodão
Ajudo o Gustavo a pintar as unhas
Denominavam-se também mimos os atores de mimos
É claro não há mais como ter certeza de nada
Os números chegam-nos já chorados
Sons de construção ao longe
Em nada diferem dos sons de demolição
Tudo informe matéria mas não falta
Quem nos ajude
A seguir estalando os dedos colina acima
De lá somos como que pequenas fogueiras suspensas
Como visões presas no fogo
E vistoriadores do mesmo somos
A modéstia ela própria
Dirigimo-nos ao gênero humano
Difusamente ainda
Voltamos a grafitar os muros de Pompeia
Difusamente ainda
É domingo
Ajudo o Gustavo a pintar as unhas

gus unhas 1

 

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Ismar Tirelli Neto (@ramerrame) é poeta.

 

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