O que vejo são os seus desenhos sombrios, grafite, carvão, as formas difusas que existem em algum lugar da Terra, certamente entre árvores gigantes, no verde-escuro e úmido das florestas tropicais. Vejo o seu olhar fixo e determinado. As plantas dos seus pés pisando inteiras no chão quando você caminha. O universo que você me fez criar ao seu redor com todos os elementos, enfeitei com Conrad, com Lynch, com Herzog – um universo impossível de estar por muito tempo, porque assustador, por sua força.
As incontáveis vezes que você falou do Kinski, que falamos, conversas hipnotizantes sem fim sobre como pode existir essa pessoa e esse outro mundo, a eterna mesa de madeira entre nós, o lustre tremendo baixo sobre as nossas cabeças e seguimos dissecando as nossas obsessões, como adequá-las a essas pessoas, a esse mundo, a nós mesmos. A busca da expressão perfeita, da imagem mais viva, da palavra mais certa e o esforço descomunal para sermos, ao mesmo tempo, pacientes.
Suas mãos transpiram e você recolhe as minhas. O som de nossa pulsação, e a cavalaria.
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Juliana Amato. Meu melhor inimigo
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Juliana Amato (julianaamato.com) observa e escreve.